Postado por: Márcia Silva
O barão Georges-Eugène Haussmann (1809-1891) foi nomeado administrador do Sena em 29 de junho de 1853. Na metade do século XIX, Paris ainda é uma cidade enferma. As descrições de Eugène Sue são precisas e preciosas: ruas estreitas, pardieiros de vários andares e uma grande densidade demográfica nos bairros mais pobres do centro da cidade (muitos milhares de habitantes por quilômetro quadrado).
Em 13 de dezembro de 1838, em uma noite chuvosa e fria, um homem de aspecto atlético, vestido com uma blusa de má qualidade, atravessou a Pont-au-Change e se embrenhou na Cité, um dédalo de ruas escuras estreitas e tortuosas, que se estendia do Palácio da Justiça até a Notre-Dame. […] Naquela noite, entretanto, o vento se engolfava violentamente nas ruelas esquálidas daquele bairro lúgubre. O luar descorado e vacilante, cujas reverberações eram agitadas pelo vento norte, seco e frio, se refletia no ribeiro de água negrejante que corria pelo centro dos pavimentos lodosos. As casas cor de lama eram perfuradas por raras janelas de caixilhos apodrecidos e quase sem vidros. Aleias negras e infectas conduziam a escadas ainda mais negras e ainda mais infectas e tão perpendiculares que só podiam ser escaladas com a ajuda de uma corda de poço afixada às paredes úmidas por uma série de grampos de ferro. (Eugène Sue, Os mistérios de Paris).
Já no início do Segundo Império, a cidade conserva seu coração medieval. Os bairros centrais são verdadeiras favelas. As epidemias de cólera causaram milhares de mortes em 1832, 1848, 1849, 1853 e 1865.
Na mutação dos espaços parisienses, Napoleão III ocupa um lugar central. A partir de sua eleição como presidente da República, em 1848, ele expôs com frequência ao administrador do Sena, na época Berger, qual era sua política para Paris. Mas os primeiros trabalhos (as obras de prolongamentos da Rue de Rivoli) só foram iniciadas no ano de 1852.
Haussmann recordou com justiça em suas memórias as diretrizes imperiais, que haviam sido traçadas sobre o plano de Verniquet, marcando com traços de cores diferentes os novos eixos de circulação, que deveriam modificar a vida da capital. Durante seu exílio em Londres, o futuro imperador se convencera dos benefícios gerados pela distribuição dos bairros insalubres e pela construção de grandes artérias, iguais as que haviam modificado a paisagem urbana da capital inglesa.
A partir de Napoleão III e Haussmann, já se pode realmente falar em política urbana. Contrariamente aos projetos anteriores, a cidade passou a ser considerada de forma global. Não se tratava mais unicamente de realizar alguns cortes novos para comunicações, mas de reorganizar por completo os bairros centrais, facilitar a circulação das pessoas e a passagem do ar mediante o alargamento das ruas, estabelecer laços entre a periferia e o coração da cidade, ligar as estações ferroviárias com polos internos ou multiplicar os transportes coletivos …Os cortes realizados através da cidade pelas avenidas haussmannianas descatam completamente o antigo modelo urbano ( os cortiços decadentes e as densidades demográficas excessivas dos bairros interiores) e estabeleceram novos eixos mais retilíneos e mais largos a partir de uma estação, de uma praça ou de um monumento importante. Paris passou a respirar melhor, mas os parisienses mais humildes foram forçados a se mudar para a periferia. As expropriações de pardieiros deram lugar aos imóveis construídos sob orientação de Haussmann.
Entre 1853 e 1868, Haussmann foi o mestre de obras das grandes operações que metamorfosearam a paisagem e a vida dos parisienses. Com a multiplicação das expropriações, facilitadas pelo senátus-consulto (decisão decretada pelo Senado Imperial) em 25 de dezembro de 1852, milhares de famílias foram despejadas e seus prédios demolidos, dando passagem a importantes artérias, enquanto as novas construções cediam lugar à cidade burguesa central. “Profundas trincheiras, muitas das quais já se transformaram em magníficas ruas, atravessavam a cidade em todos os sentidos; as ilhotas de casas miseráveis desaparecem como por encanto, abriam-se novas perspectivas e se revelavam novos aspectos inesperados” (Théophile Gautier). A haussmannização de Paris não se interrompeu em absoluto em janeiro de 1870, quando o barão foi demitido do cargo. Até o começo do século XX, numerosas áreas continuaram a ser submetidas ao ritmo das operações iniciadas por ele na década de 1860 e prosseguiram até a conclusão de seus planos.
Entre as grandes operações estavam as duas avenidas norte-sul e leste-oeste, que formavam uma encruzilhada, constrituída pela Rue de Rivoli e pelos bulevares de Estrasburgo e Sébastopol, que se prolongava na margem esquerda pelo Boulevard Saint-Michel. As praças do Châtelet e de Saint-Michel serviam de moldura para a Île de la Cité. A Place du Châtelet, com seus dois teatros, foi ampliada e ligeiramente deslocada a fim de enquadrá-la mais exatamente na perspectiva norte-sul e ligada ao Hôtel de Ville pela criação da Avenue Victoria, em 1855.
Na margem esquerda, foi aberta a Rue des Écoles, em 1852. As obras do Boulevard Saint-Germain foram iniciadas em 1855. Cortando a Rue de Rivoli, ela desembocava no Boulevard Henri-IV e ligava a Place de la Concorde à Place de la Bastille. A estrela da parte sul do dispositivo haussmanniano é a Place d’Italie, formando o nódulo de convergência de uma nova série de bulevares.
O engenheiro-chefe, Jean-Charles-Adolphe Alphand, embelezou os bairros e plantou inúmeras arvores ao longo das ruas, além de abrir jardins, criar praças, quiosques e pavilhões. Cada rua, avenida ou bulevar aberto foram acompanhados por fileiras de árvores.
Desse conjunto napoleônico-haussmanniano fazem parte as estações ferroviárias, a rede hidráulica de suprimento de água e escoamento dos esgotos e uma porção de novos prédios públicos. Com as construções dos arquitetos Raynaud e Hittorf, a cidade tinha seis estações ferroviárias no final do Segundo Império.
Em 1889, Paris recebeu uma nova Exposição Universal. O símbolo dessa manifestação internacional é a Torre Eiffel. O projeto de Gustave Eiffel foi escolhido dentre uma centena de propostas.
A Torre Eiffel encarna o triunfo do cálculo e a irrupção na paisagem arquitetônica moderna dessa transparência quase desmaterializada que permitem as construções metálicas. A torre de trezentos metros e de 7.300 toneladas foi completada no final de março de 1889. A Exposição foi aberta em 6 de maio. Em 15 de maio, a ascensão da torre foi permitida ao público a pé, até o segundo andar.
http://www.mundodastribos.com/pacotes-de-viagens-para-paris-2012-baratos.html
A inauguração do serviço da linha número 1 do Métropolitain, puxada por um trem elétrico, que podia percorrer em 25 minutos as dezoito estações que mediavam da Porte de Vincennes à Porte Maillote, ocorreu a 19 de julho de 1900. Esse novo meio de transporte serviu para acentuar, durante longos anos, a divisão entre Paris e os subúrbios afastados.
Fonte: http://shuffiviagens.blogspot.com/2010/09/fotos-antigas-paris.html
A partir de 15 de março de 1891, a França inteira passou a se orientar pelo horário do Meridiano de Paris.
Paralelamente às escavações do metrô, a primeira linha de ônibus a gasolina, aberta em 1905, ligava o prédio da Bourse ao Cours de la Reine. No ano seguinte, foi introduzido o ônibus Brillé-Schneider, com trinta lugares. A vida urbana cada vez mais passou a depender da eletricidade. Após o incêndio da Opéra-Comique, provocado pela explosão de lâmpadas de gás, acelerou a instalação da iluminação elétrica. Alguns veículos elétricos movidos a baterias começaram a aparecer pelas ruas. A Companhia Parisiense de Distribuição de Eletricidade foi criada em 1º de janeiro de 1914.
Eugène Ducretet realizou a primeira ligação de ondas hertzianas com o Panthéon, em outubro de 1898. O telégrafo sem fio e a Torre Eiffel estavam dando início a uma longa historia em comum. O telefone era exclusividade da elite.
As consequências imediatas das longas cheias de janeiro a março foram seguidas pelas inundações e paralisia do Métropolitain, pela suspensão da distribuição de eletricidade para evitar acidentes fatais e pelo corte das linhas telefônicas.